domingo, 13 de setembro de 2009

CLIPAGEM - JC 13.09.2009

Ex-Exus faz terrorismo experimental
Publicado em 13.09.2009

Texto de Luís Fernando Moura

Os Ex-Exus nunca foram exatamente orixás, não frenquentam terreiros nem fazem cerimônia. Esta banda pernambucana, com menos de um ano de história, gosta mesmo é do terrorismo e do disfarce – certamente, vão para o inferno. À vontade no quarto, depois das 22h (ou mascarados, entre escombros, ao meio-dia?), eles contam ao JC o que os levou a ser a banda de abertura do festival No Ar Coquetel Molotov, no dia 18. Ao que parece, é a ambiguidade de ser banda e coletivo faz-tudo que os colocou no topo (bem baixinho) do Auditório Tabocas, no Centro de Convenções.

“Foi Caetano (Veloso) quem inventou o nome. Apenas fazemos uso dele”, diz João Marcelo Ferraz, baixista do grupo. Ao que tudo indica, Caetano citou a expressão em referência ao programa de TV Abertura, em que Glauber Rocha se aventurava como entrevistador. “Ele interrompia o entrevistado, dava gargalhada quando achava a resposta fraca, e uma vez entrevistou um homem que se dizia ex-exu. Era puro terrorismo audiovisual”, diz João, antes o autor de diversos vídeos produzidos junto ao coletivo TV Primavera – que terminou virando músico.

Ricardo Maia Jr., Cacá, guitarrista e vocalista, tem uma teoria adicional para o batismo. Ex-integrante da Comuna, que acabou no começo do ano, lembra de quando o grupo fez uma parceria com Jomard Muniz de Brito – a banda tinha abandonado o antigo nome, Comuna Experimental. “Jomard tirava onda e dizia que éramos a Comuna Ex-Experimental”, conta.

Os Ex-exus são mais ou menos como uma cacofonia. “Tem essa coisa tropicalista que a galera gosta e levamos para a música. Temos isso de aceitar a nojeira, o ruído, o mal feito. Já somos experimentais apenas por fazer música em português, claro. Mas a gente gosta de fazer uma música meio mixtape, que tem hardcore, brega, de repente uma cumbia e então um rock and roll meio grunge”, diz Cacá. O que os une, continua, é ouvir de tudo, sem preconceito. João afirma que é de jazz a Exaltasamba.

“Eu, Amaro (Mendonça) e Bruno (Freire) tocávamos na Comuna. Quando ela foi acabando, a gente tava querendo montar uma coisa menos cabeçuda, mais burra. Começamos a tocar com apenas duas guitarras e bateria, então sentimos falta de um baixo e chamamos João”, afirma Cacá. Aí começou o desenlace. Amaro fala em seguir o Cidadão Instigado (“É uma banda que todo mundo gosta, é o que a gente busca”). João, em montar um Animal Collective (“Sem dúvida, a banda mais citada pelos quatro”). Quer dizer, lembra de novo: “Também tem Caetano...” O primeiro produto disso tudo, o EP Terroristas freelancers, é uma miscelânea musical suja, mas sofisticada – para a saúde de todos, indefinível.

Na prática, a música trouxe um quê do Abertura de Glauber. “Hoje, a gente acaba fazendo mais vídeo que show”, conta Cacá. É que o grupo passou a produzir um volumoso material audiovisual, peças de divulgação que ganharam importância autônoma (são produtos à parte). Além dos seus próprios videoclipes, a banda publica uma série intitulada Ex-Exus entrevistam, versão YouTube de um terrorismo jornalístico que investiga músicos pelo mundo afora. A última jogada é um projeto de videoaulas, em que o grupo, pacientemente, ensina o público a executar suas canções.

“Acabamos não sendo uma banda, nos vemos mais como um coletivo. Na verdade, o Ex-Exus é uma referência de produção. A questão é que o princípio de tudo são as composições, a música”, explica Cacá. Amaro completa: “O que faz da gente uma banda é que, quando a gente se encontra, é mais para ensaiar do que para qualquer outra coisa”. Artistas multimídia, os Ex-Exus foram convidados pelo Coquetel Molotov para cobrir o festival, conversando com as atrações aos moldes do Ex-Exus entrevistam. É só o princípio de novos projetos, que incluem não um, mas dois EPs em fase de produção. “Cada um vai ter um conceito diferente”, explicam os integrantes.

Para ler na página do JC, acesse o LINK.

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